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Cap. 91

Ilustração com fundo preto, no qual está a silhueta de metade do corpo de uma nativa americana apontando a mão esquerda em direção ao leitor. Ela tem cabelos longos presos em duas tranças, usa um colar de pedras branca, dois colares com dentes de animais e veste uma túnica preta ornamentada com pedras brancas.

Noite da Raposa aproxima-se de Cobra Traiçoeira, passa a mão pelo rosto do neto e fala docemente em Siksikáí'powahsin:

— Até quando você viverá sendo quem não é?

Cobra Traiçoeira se retrai e responde em inglês: — Eu escolho quem eu sou.

— Muito bem dito. – apoia Lucretia, retornando ao grupo, já recomposta e atraindo os olhares dos presentes. — Está tudo bem, eu só... estava... muito apurada para mijar. Foi isso!

A curandeira observa as pessoas à sua volta, se levanta e passa lentamente em frente a cada um, sorri, senta-se novamente e é, como sempre, interrompida por Cobra Traiçoeira:

— O que foi, avó?

Noite da Raposa, desistindo de tentar educar o neto: — Vocês não podem forçar seus destinos. Pensem, se tivessem mesmo esse poder, estariam aqui, agora?

— Eu vejo vocês e suas dúvidas e medos ficam gritando para mim.

— Mas fico feliz pelos amigos que meu neto fez. (eles se entreolham, contestando, em silêncio, o termo “amigos”).

A senhora ignora os olhares e continua: — Esse (apontando para Wayne) é o urso que vive enfiando a cara no formigueiro. Não é esperto e já machucou muito o focinho, mas, se o ajudarem a achar a colmeia, ele pode aprender a compartilhar o mel.

— Eu sabia! – sussurra Lucretia para si mesma, mas não tão baixo para escapar dos ouvidos de Noite da Raposa: — Haverá mel, mas haverá um monte de ferroadas também.

Ela continua, apontando Augustus: — Esse, é o próprio N’api, o velho criador. Ele traz as mudanças, e às vezes a destruição (“não me diga”, pensa Westwood), mas sempre buscando construir algo melhor. Ele é quase um mal necessário. Vamos torcer para que vocês sobrevivam às destruições.

— Você precisa se conciliar com o que foi (apontando para Lucretia) e você com quem deve ser (indicando Cobra Traiçoeira).

Os dois abaixam as cabeças em silêncio, torcendo para que chegue logo a vez do próximo.

Ela olha fixamente para Westwood, que retribui o olhar, com nítido desconforto, afinal, ninguém o olha nos olhos sem desviar rapidamente.

— Chegamos a você. - diz Noite da Raposa.

— Não precisa. – dispensa Westwood. – Eu não quero saber.
 

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